domingo, 13 de outubro de 2013

A máfia da numeração

"Não... você não pode dar uma blusa G de presente para ela. Isso é chamá-la de gorda!"

Por incrível que pareça eu já ouvi essa frase várias vezes. Aliás, já me deparei com discurso pior, como: "Eu nunca usei G".

Meu, primeiro: uma pessoa que nunca usou G não é melhor do que ninguém. Aliás, quando estamos com uma roupa que vestiu super bem na gente, que diferença faz a etiqueta? Por isso, e daí usar G?

Bom, voltando... Mas será que usar uma roupa com a 7ª letra do alfabeto estampada em sua etiqueta, que, coincidentemente, é a inicial das palavras 'gordo' e 'gordura' representa realmente estar acima do peso?

Não, isso não representa estar acima do peso, ou seja, com sobrepeso de acordo com o IMC (Índice de Massa Corpórea). Isso representa uma coisa muito pior: estar acima do padrão estabelecido por uma determinada marca, que etiqueta aquela peça de acordo com outro IMC, o Índice da Moda Capitalista.

Saí do número 18 de criança, dos famosos conjuntos de moletom, para a calça jeans 44. Até os 18 anos nunca tinha usado 40 ou 42 na vida... 38 ou 36 então, nem vamos comentar. Quando emagreci um pouco no terceiro colegial consegui usar uma saia 42, mas não cheguei ao 40.

Mas, por outro lado, ao mesmo tempo em que usava uma calça 48, tinha um casaco 42, por exemplo. Como pode, produção? É simples. Não dá para tachar uma pessoa como 38 ou 48. Porque, além de toda a relatividade que engloba a máfia da numeração, pontos como o tecido e a parte do corpo da pessoa devem ser levados em conta. É claro que uma blusa com elastano para uma pessoa que tem menos seio do que quadril será menor do que uma calça jeans dura. Afinal, por que será que as lojas de biquini começaram a vendar as peças separadamente, não é mesmo?
 
Portanto, já usei P, M, G, GG, XG, XGG, G1, G2, G3 e G4 e do 44 ao 56. Falar que isso não me incomodava seria mentira. No entanto, o meu incômodo não era devido a numeração que eu estava usando, até porque isso realmente não faz diferença depois que a gente está vestido. Já a falta de opções de peças estilosas em tamanhos maiores, isso sim me incomodava. Mas, aos poucos, as coisas estão mudando. Ainda bem! No auge dos meus 12 anos, lá em 1997, por exemplo, era muito mais difícil encontrar uma roupa legal para uma pré adolescente acima do peso.

Aí, depois da minha mudança de vida, as pessoas acham um absurdo eu usar uma peça G. "Mas como?? Você emagreceu. Não precisa usar G". Mas, para mim, usar um shorts G (com um bom caimento e não estourando) de uma marca que nem tem GG - e que nem o XGG, se existisse, chegaria perto de servir em mim -, é uma grande alegria.

Aí você me pergunta: "Mas é normal uma pessoa que está dentro do peso ideal de acordo com o IMC usar G, de Gordo?" Bom, normal eu não sei. Aliás, o que é normal? Mas, com certeza, é bem comum, já que o Índice da Moda Capitalista não se preocupa com a saúde dos consumidores.

Portanto, eu usava e uso, sim, G, GG, XGG ou qualquer outra letra ou número que for necessário, desde que a roupa vista bem no meu corpo.

Ah, e eu também não me importo de ganhar uma peça G se é ela que servirá em mim. A gafe maior é dar uma roupa menor apenas para não dar G e ter que fazer a pessoa ir trocar depois. Pense nisso!


Na foto, a calça que está em cima é a minha primeira 40, que comprei no ano passado da marca Marfinno, da Renner. Essa marca apresenta as maiores numerações da loja. Portanto, de outras marcas eu não visto 40, uso 42 ou 44. Mas não encano com isso, pois tenho plena consciência de que os padrões mudam de acordo com as empresas.

A calça de baixo é 56, maior numeração que usei, mas não lembro a marca dela. Uma pessoa que não está acostumada com diferentes tamanhos, quando ouve falar em uma calça 56 se assusta e acha que é roupa para um gigante. No entanto, quando vejo essa foto, que compara um "40" com um "56" tenho plena consciência da máfia da numeração. Pois, apesar de uma grande diferença de tamanho das calças, não vejo nada de outro mundo na foto.

Portanto, vamos parar com os preconceitos e vestir o que nos cai bem.

2 comentários:

  1. Leila, é curioso como isso também se reflete do outro lado da escala. Sou magra, mas não magérrima, e tenho dificuldades de encontrar roupas - principalmente calças - do meu tamanho. Uso calça 36, mas essa mania das marcas fazerem peças maiores do que normalmente seriam para determinada numeração só para agradar suas clientes faz com que as 36 fiquem enormes (e elas costumam ser o tamanho menor) à disposição.
    Dia desses comprei uma calça 34 na loja M, e vou ter de ajustá-la na cintura. A loja só vende até 42 justamente por isso: as calças são enormes! Por essas e outras, quando vejo meninas bem madrinhas na rua fico pensando se não compram roupas só na sessão infantil...
    Beijo!

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    1. Oi Ju ... que legal o seu comentário aqui... é uma honra.
      E que legal que você também colocou o seu lado, pq mtas vezes a gente só enxerga as coisas com o nosso ponto de vista mesmo. Ainda mais agora que ando fundamentalista com a causa haha, então, outras opiniões são sempre mto bem vindas para nos manter com o pé no chão. Muito obrigada.
      As vezes eu tbm penso que algumas meninas compram roupas na seção infantil mesmo... Mas... cade as normas da ABNT né? haha ..
      Bjaoo Ju ...

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