Quando
li esse texto, diversos pensamentos vieram em minha mente, inclusive se deveria
ou não compartilhá-lo. Pensei, pensei e cá estou tentando expressar meus
sentimentos.
Talvez,
tudo o que eu falar aqui seja inútil, pois os ‘juízes’ adoram julgar e os teimosos
(sempre fui desse time e entendo como é) dificilmente refletem sobre outros
pontos de vista. Mas... gostaria apenas de refletir um pouquinho aqui sobre uma
situação que SEMPRE fez parte da minha vida.
Meus comentários estão em vermelho.
Deixem as gordas em paz
Por um mundo onde "você
emagreceu" não seja elogio e "você engordou" não seja afronta.
Por Clara
Averbuck, publicado 09/09/2013 em: http://www.cartacapital.com.br/blogs/feminismo-pra-que/deixem-as-gordas-em-paz-9363.html
Bom, então vamos começar pelo começo. Para mim “você engordou”
sempre foi uma afronta, sim, pelo simples fato de que sempre achei que as
pessoas não precisam comentar verdades que podem magoar as pessoas gratuitamente.
(Sim, isso magoa. Por mais autoconfiante que a pessoa seja, comentários pejorativos
sobre o corpo acabam magoando de uma maneira ou de outra).
“Você emagreceu” é um elogio para mim não simplesmente pelo fato da
perda de peso, mas sim por poder fazer muitas coisas que eu nunca me imaginei
fazendo, como correr 5, 10, ou 15k. A sensação de superação e de conquista é
ótima em qualquer circunstância. Se uma pessoa com deficiência motora adquirida
em um acidente de carro, por exemplo, voltar a dar os primeiros passos, as
pessoas vão elogiar a sua superação e a sua força de vontade. Então, como não
gostar desse elogio se eu sempre fui a pessoa que mais duvidou de mim em todos
os momentos?
"Você emagreceu!" é automaticamente interpretado como
elogio. "Você engordou" é algo que ninguém aceita bem.
Você emagreceu! Você está leve,
está linda, está fina. Elegante. Está fazendo exercícios? Está comendo melhor?
Parabéns! Obrigada. Estou fazendo muitas coisas
que me dão prazer e a consequência foi a perda de peso.
Você engordou! Nossa, o que aconteceu? Relaxou? Está com problemas? É
ansiedade? Já fez exames? Come muito doce? Se
não tem coisa melhor para falar, fique calado.
Bom, preciso dizer que magreza não é sinal de
saúde? Preciso dizer que 95% dos pacientes com anorexia são mulheres? Preciso
dizer que a anorexia é inclusive tratada como epidemia em alguns países, tendo
a doença alto índice de mortalidade (1 a cada 5 pacientes)? Concordo!
Muitas mulheres convivem com essa neurose
diariamente. Muitas mesmo. Quantas amigas suas vivem de dieta? Vou falar sobre mim. Eu estive acima do peso desde a infância
e fiz dieta apenas duas vezes (com 18 anos e agora com 27). Quantas amigas suas morrem de culpa por comer um
pedacinho de bolo? Raramente eu morria. Quantas mulheres entram em depressão por causa de seus
corpos depois da gravidez. Quantas delas correm para a academia querendo entrar
"em forma" o mais rápido possível? Eu corria para longe da academia. Quantas tomam remédio pra emagrecer? Isso nunca passou pela minha cabeça. Quantas morrem de vergonha de seus corpos na praia? Sempre usei biquínis. Os shortinhos, sainhas, vestidinhos e
cangas sempre foram meus amigos. Quantas
conseguem ficar de boa ao vestir um biquini sem ter se esforçado pra estar
"em forma"? E quantas das que eram gordas e emagreceram agora tiram
onda das que continuam gordas? Eu sei que tem muita gente
achando que eu “tô me achando”. Mas como eu sempre fui gorda e como toda essa
mudança é muito recente na minha vida, eu não me estranho ao olhar uma foto
minha do início de 2012, por exemplo, quando eu estava com 43 quilos a mais.
Porque aquela sou eu e sempre será. Não mudei os meus princípios. Não renego o
meu passado e muito menos ninguém por ser gordo. A única coisa que quero
mostrar é que É POSSÍVEL mudar pensamentos e hábitos em qualquer circunstância
(até mesmo para uma pessoa teimosa como eu). É claro que
você pode ir pra academia. É claro que você pode malhar, pode inclusive ser
musculosíssima, pois o corpo é seu. O que nós queremos é apenas que todos os
corpos sejam aceitos. Acho que não é pedir
muito, não é? Todos os corpos. Os malhados. Os
naturalmente magérrimos. E os gordos. Sim, as gordas querem ser aceitas e
felizes. E amadas e bonitas e tratadas como pessoas normais, não como
"aquela gorda", estando isso à frente de tudo mais que ela for. Sim, porque a sociedade é muito mais cruel com as mulheres
gordas.
A quem argumenta que as magras também
sofrem: sim, todas as mulheres que estão
fora do padrão de beleza sofrem. Eu ouso a dizer
que as gordas sofrem mais. Ok, vocês podem dizer que todo mundo acha que a sua
cruz é mais pesada. Concordo. Mas não vamos ser hipócritas, a sociedade condena
muito mais as gordas. E as que não estão
também. Nunca está bom. Você nunca vai ser boa o suficiente. Você vai pra
sempre ter que pensar nisso. Mulher não pode engordar. Não pode ser muito
magra. E não pode envelhecer. É ridículo ouvir que "homem gosta de ter
onde pegar", como se agradar os homens fosse o objetivo final da vida de
cada mulher. Todas sofrem. As muito magras, as negras, as gordas. Não estamos
jogando supertrunfo da opressão.
Mas há obviamente uma pressão maior sobre
as gordas. Como disse acima, concordo. Se for negra e
gorda, então, muito pior. Vamos falar GORDAS, não "gordinhas",
"fofinhas" ou "gordelícia", porque GORDA não é xingamento.
Uma pessoa gorda não é pior do que uma pessoa magra. Nem mais preguiçosa,
nem mais relapsa, e nem tem menos "força de vontade". Força de
vontade PRA QUE, minha gente? Pra se enquadrar em um padrão excludente? As
gordas que emagrecem são parabenizadas. Glorificadas. "Parabéns pela sua
incrível força de vontade!" Comentei sobre
isso no começo do texto. Acredito que o elogio valha a pena sim para as conquistas
prazerosas e inimagináveis. O emagrecimento é consequência. Ninguém pensa na triste possibilidade de essa força de
vontade talvez estar vindo de uma terrível angústia por causa da pressão
social. Na maioria esmagadora das vezes esse é o
real motivo para o INÍCIO da mudança de vida de muitas pessoas que estão acima
do peso. Isso é realmente muito triste. Mas, se depois de todo esse caminho doloroso de preconceito,
vier uma enorme sensação de bem-estar físico e mental pelo equilíbrio
conquistado, tento certeza de que essas pessoas serão maduras e seguras o
suficiente para perceber que a pressão social sempre veio de indivíduos
pequenos e mesquinhos. É claro que a pressão
nem sempre vem de fora pra dentro. Você pode perfeitamente não se sentir bem em
seu corpo e querer mudar; como eu já disse, o corpo é seu. No meu caso a decisão de mudar foi devido à saúde. Estava
tomando remédio para hipertensão há 3 anos. Mas
saiba que isso é algo pessoal e que é lamentável que isso vire uma cruzada
chamando todas as pessoas que são gordas para também entrarem "em
forma". Concordo que, felizmente, não é todo
gordo que está com a saúde debilitada como eu estava. Mas a qualidade de vida de
quem mantém hábitos alimentares saudáveis e pratica atividade física é,
comprovadamente, melhor. E isso eu sinto na pele. Então, não chamo as pessoas gordas
para uma cruzada para que elas entrem em forma, mas, simplesmente, as convido para
manterem hábitos mais saudáveis. Isso não
deveria estar no centro das nossas vidas. Nós não estamos aqui para enfeitar o
mundo. Somos mulheres, não adornos.
Veja bem, eu não estou usando um tom
acusatório. Eu inclusive sinto isso na minha pele, sempre senti. A vida inteira
eu convivi com essa paranoia. Tomei um milhão de remédios para emagrecer. Eu não. Vivia querendo ser
magra. Sempre soube dos “benefícios” de ser magra,
principalmente na adolescência, quando as pessoas não estão nem aí para o que
“a gorda” é de verdade. Então, seria hipocrisia da minha parte dizer que nunca
quis ser magra, mas isso nunca foi uma paranoia para mim. Afinal, para mudar eu
teria que sair da minha zona de conforto e até os 27 anos eu não fui madura o
suficiente para isso. E eu nem era gorda! Já eu sempre fui. Porém me
entendia gorda. Obesa. Sim, eu cheguei à
obesidade grau 3. Horrível. Mas não me sentia horrível. Claro que, como toda mulher,
tinha altos e baixos com a minha imagem, mas não me sentia horrível na maior
parte do tempo. Eu precisava emagrecer.
Chorava quando engordava um pouquinho. Já eu nem
sabia quando engordava. Desleixo? Talvez. Apenas aceitei a realidade do meu
metabolismo. "Ah, então hoje você não aceita mais?". Aceito e, principalmente por isso, me cuido. Vivia pensando nisso,
carregava a neurose como uma bigorna pendurada no pescoço. Não, realmente eu não fazia isso. A pressão era terrível. Eu achava que tinha que ser
perfeita. Achei que estava perfeita depois de uma crise em que fiquei dias sem
comer. Nossa, quando eu dizia: "agora eu vou
maneirar", não durava nem três horas, imagine dias sem comer? Eu estava horrível, estava um caco, mas estava esquálida e
me achando linda, com muita gente ao meu redor aprovando o absurdo. Eu sei como
é. Eu sei o que a gente passa. Não é fácil se livrar disso. Não mesmo. Volta e meia
ainda tenho umas crises que podem até atrapalhar a minha vida sexual. Ninguém
está livre e a culpa não é de quem sucumbe; é muito difícil conviver
diariamente com todas as pressões de um mundo que vê os gordos - mais
especificamente as gordas - como pessoas piores. E a pressão continua em
cima das pessoas que emagreceram (no meu caso nem digo ex-gorda, porque para
muita gente eu sempre serei gorda, afinal, nunca estarei no padrão de magreza
exigido pela sociedade). E quantas não são as pessoas que estão ansiosas para
os ex-gordos engordarem novamente simplesmente para soltar a famosa frase:
‘viu, sabia que ele não ia aguentar. Não adiantou nada’.?
Não tem roupa pra gorda no Brasil. A gente tem
que CAÇAR peças legais. Não tem mercado pra
gorda no Brasil. Pessoas gordas sofrem preconceito em entrevista de emprego (li
que precisam fazer cerca de quarenta entrevistas a mais do que uma pessoa
magra). Concordo.
Não tem gorda na televisão, a não ser quando é no papel d'A Gorda. Concordo (Ridículo o papel da Fabiana Karla em Viver à Vida.
Só porque é gorda tem que ser virgem?). Pessoas
gordas sofrem preconceito no sistema de saúde. Pessoas gordas sofrem
preconceito no transporte público. Pessoas gordas não são doentes. Pessoas
gordas são apenas gordas.
(Já sei que vai ter um monte de gente
dizendo que GORDURA NÃO É SAUDÁVEL AS PESSOAS MORREM DE OBESIDADE AS PESSOAS
GORDAS GORDAS GORDAS MORREM GORDAS MORREM. A vocês apenas digo: busquem
conhecimento, pois não é bem assim. Tem muito gordo com a saúde nos trinques.).
Como já disse acima, concordo. Mas levanto, sim,
a bandeira do bem-estar trazido pelos bons hábitos alimentares e pela prática
de atividade física para todas as pessoas: gordas ou magras.
Exaltar a beleza das gordas não é dizer que
as magras não estão mais autorizadas a serem belas. Não é tentar estabelecer um
novo padrão, uma ditadura da celulite, e sim aceitar uma democratização da
beleza. Perfeito. Porque o mundo seria muito
chato cheio de pessoas iguais. É não olhar
feio quando a gorda quiser comer um xis-tudo, porque o corpo é dela,
consequentemente, a saúde também. Não use o argumento da saúde para cagar regra
no corpo alheio. Dificilmente fazem isso com as magras. Não mesmo. E olha que há várias magrelas que são perfeitas
dragas. Na adolescência tinha uma invejinha delas. Não seria perfeito comer
todas as porcarias do mundo e não engordar? Hoje eu vejo que não. Prefiro
sentir o prazer de estar bem alimentada e com um bom condicionamento físico. (É
claro que há os finais de semana que a gente abusa um pouco mais, mas – eu
ainda não acredito que vou dizer isso – sinto mais prazer em fazer atividade
física do que em comer). Dificilmente condenam
meninas evidentemente doentes, pelo contrário, elas têm a magreza elogiada e
exaltada e são encorajadas a continuarem com a loucura de não comer, de
vomitar, de perder, perder, perder. Não é uma preocupação com a saúde. É pura e
simples cagação de regra.
Anorexia é a primeira causa de morte entre
pessoas do sexo feminino entre 14-25 anos. E é esse padrão que causa isso.
Mulheres morrem porque querem ser magras. Mulheres morrem porque não querem ser
chamadas de gordas.
Gorda não é xingamento. Deixem as gordas em
paz. Deixem as gordas de biquíni. Deixem as gordas mostrarem a barriga, deixem
as gordas usarem o tamanho de saia que quiserem. Deixem as gordas terem
namorados sem pensar "nossa, esse aí podia conseguir coisa melhor". Sim, deixem, por favor. Gorda
não é "coisa". Gorda é gente.
Apenas deixem as gordas em paz.
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